O que é? Para que serve? Como participar deste momento?
Segundo o dicionário de Aurélio Buarque de Holanda, prelúdio vem do francês prélude e quer dizer: “Ato ou exercícios prévios, primeiros passos; iniciação; preparar com antecedência. Aquilo que precede ou anuncia alguma coisa.”
Por analogia, vamos pensar agora nos cultos na igreja. O culto matutino vai ter o seu início às 10h15, mas desde 9h já estamos envolvidos nos trabalhos eclesiásticos. São professores, diretores de departamentos, secretários, alunos, merendeiras do departamento infantil, introdutores e outros que servem ao Senhor dominicalmente nas igrejas. Todos envolvidos em alguma atividade, em algum movimento.
Outros, só chegarão às 10h15 e até atrasados, trazendo consigo todos os problemas, preocupações ou pensamentos ainda ligados ao cotidiano da sua vida pessoal. Muitas vezes é o almoço que não deu para terminar, ou é o filho, mãe ou outro parente que foi deixado em casa. Alguns chegam tensos para o culto, pois nem sempre é fácil vir e deixar o esposo (a), os filhos ou os pais que não sendo "crentes", muitas vezes não entendem o porquê de “tanto culto”, tanta igreja. Já para aqueles que chegaram às 9h esses problemas já diluíram, mas as emoções causadas pelas descobertas feitas no estudo profundo da Palavra de Deus na EBD, as discussões e debates nas classes e o encontrar alegre com os irmãos e amigos estarão mexendo com estes com suas emoções.
Todas as pessoas, com uma gama imensa de sentimentos - apreensão, tristeza, alegria, excitação, ansiedade, crise, mágoas, ira, dúvidas - participarão do culto em honra ao Deus Criador e Sustentador de suas vidas. O órgão começou a tocar - música vibrante e majestosa - e todos estão chegando para o culto. Chamamos normalmente este momento de processional. Alguns chamam de entrada.
Processional vem da palavra processione e é o momento de entrada de todos os participantes para o local de cultos. Sim, todos - ministros ou oficiantes, os coros, regente e os fiéis que formam a congregação. Durante a Pastoral ou Igreja em ação o pastor da igreja lembra os momentos áureos vividos durante a semana, ressalta alguma atividade em especial, apresenta os visitantes e em muitas ocasiões os irmãos se cumprimentam e se confraternizam. É o momento da chegada. Estamos mais uma vez reunidos como família. É um momento de comunhão.
Bem, tudo falado, arrumado, avisado, compreendido, então, vamos nos preparar psicologicamente, mentalmente, espiritualmente, emocionalmente para o que vai acontecer a seguir. Sim, o culto é um acontecimento. É algo real. É uma celebração. Deus está presente – pois muitas pessoas estão reunidas em seu nome - recebendo adoração.
Neste momento as primeiras notas do prelúdio são tocadas pelo piano ou flauta, ou violino, violão, órgão ou outra formação que cada igreja possui. O que sempre aprendemos ao longo de 46 anos do Curso de Música Sacra no nosso Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil - ensinado pelos nossos primeiros professores com formação musical e teológica na outra América -, é que neste momento cada irmão deve sentir como está em Isaías 6.1-2: A visão da presença do Senhor, a consciência da presença grandiosa de Deus, da sua santidade. Não que não tenhamos trazido dentro de nós este sentimento e presença, pois o culto coletivo deve ser a continuação do seu culto individual. Mas é um sentir junto, percebendo que Deus está aqui neste lugar onde eu e meu irmão, que nem conheço tanto, chegou até aqui e juntos vamos adorar o mesmo Deus. É preparar o coração, a alma para ali, naquele momento, perceber uma presença de Verdade, Luz e Amor. Sim, Deus está entre nós. Apesar de nós mesmos, apesar da nossa finitude, apesar das nossas mazelas, apesar de todas as preocupações ou ansiedades... Deus está no meio do seu povo.
A música do prelúdio deverá ser um caminho facilitador, um meio para que possamos perceber esta realidade. Não deve ser uma música conhecida - para não "brigar" com muitas mensagens ao mesmo tempo -, não deve ser vibrante ou majestosa. Deve ser calma, suave e introspectiva.
Enquanto o prelúdio estiver sendo executado, sugerimos que inspire o ar bem profundamente, feche os olhos para que nenhum movimento o perturbe e a seguir expire bem devagar. Procure não pensar em nada. Nada mesmo! Prepare-se para estar diante de Deus- não estou querendo dizer que já não estão diante dele. Fique quieto e calmo na sua presença. Se desejar orar, ore, mas não peça nada a Deus. Ore falando para Ele sobre os seus atributos - onipotente, onisciente, onipresente, perfeito, santo, misericordioso, triúno e outros - com expressões de exaltação e júbilo (aqui penso em júbilo como algo diferente de simplesmente alegria). Sinta que o Eterno, o Justo e Digno Senhor está neste lugar; prepare seu coração para ouvir sua voz. Em várias outras partes do culto você terá oportunidade para pedir, agradecer, interceder junto ao Senhor Deus em orações. Sinta a presença, a santa presença do Senhor.
Durante muitos anos da minha vida cristã sempre consegui sentir e pensar assim. Pessoalmente é desta forma que minha adoração começa a fluir em um culto coletivo. Nunca gostei de arranjos de hinos nestes momentos. Quando estudei no STBSB aprendi arranjos de hinos de coletâneas ou álbuns americanos para serem tocados neste momento. Na minha compreensão, achava que quando um hino é tocado ou mesmo uma outra música que eu conheço a letra, esta acaba interferindo neste momento que deveria ser quase um "a sós com Deus". Já entendo um hino forte e conhecido no processional, sem problemas.
Não se assuste e nem se aborreça com este meu conceito de prelúdio. É um olhar meu muito pessoal que sempre defendi durante muitos anos e que ensinei a muitos e que deu muito certo em muitos lugares ou igrejas que trabalhei.
De cinco anos para cá tenho mudado e hoje penso e faço diferente em muitas ou algumas ocasiões. Hoje tenho usado até alguns cantos bem conhecidos para de início criar a unidade na mente dos fiéis. Sinto hoje que as pessoas estão dispersas, com dificuldade de concentração e que não conseguem fazer deste momento - o que conceituei desde o início deste texto - algo especial e importante para todo o desenvolver do culto.
Bem, faço assim: coloco a letra do canto - uma estrofe apenas ou uma pequena canção sacra conhecida - no projetor ou no boletim e deixo que o povo cante ou não naquele momento. Não há nenhuma condução - regência - do canto. Fica assim estabelecido: quem desejar canta, quem desejar orar, ore. Mas se você me perguntar o que eu prefiro para veicular a minha preparação para a adoração, eu digo que prefiro o meu conceito primeiro. Foi assim que fui criada e que me faz bem, que prepara o meu coração. Sabe, o momento do culto também é cultural. Não posso impor a você isto.
Acho que precisamos ler ou estudar sobre ISO cultural. A Gisele Rosa, musicoterapeuta,formada em música sacra em 2008, escreveu um artigo que está no site do STBSB www.seminariodosul.com.br
Deus seja o árbitro dos nossos pensamentos, corações e emoções.
* este artigo foi escrito em 1982 e com uma releitura dia 14/04/2007 e 09/04/2009.**Westh Ney Rodrigues Luz - profª. de Culto Cristão no Seminário do Sul . É membro da Igreja Batista Itacuruçá, Tijuca, Rio/RJ . Trabalha com coros e ministério de música desde 1972, e em 1979 começou a pesquisar sobre Culto, ordens e liturgia. Em 2003, a JUERP lançou o livro Culto cristão - contemplação e comunhão, escrito em parceria com a profª. Leila Gusmão, redatora da Revista Louvor.
In: blogdawesth.blogspot.com
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